quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A vítima




- Pare de chorar sua malcriada!

Bianca tinha tanto medo do pai que engoliu o choro no exato segundo. Continuou caída no chão e levou um último pontapé que atingiu sua boca.Não deixou nenhuma lágrima a mais escorrer.

- Vagabunda! 

Ele saiu e bateu a porta do quarto começando a xingar agora a madrasta dela. Bianca preferiu continuar no chão, afinal não tinha forças para se levantar. Amanha era segunda e novamente ela ia ter que dizer aos professores que brigou na rua ou caiu da escada. Sua casa nem sequer tinha escada.

Levantou e entrou no banheiro antes que o pai voltasse, trancou a porta e entrou de baixo do chuveiro de roupa e tudo,nem sentia as lágrimas escorrerem. Muito menos o sangue. Ela entenderia se fosse uma menina má, mas sempre fora a filha educada e responsável, sempre obedeceu e sempre fez tudo antes que pedissem. Suas notas eram a melhores, mesmo com todos os seus problemas. 

Colocou a roupa molhada dentro da maquina e foi pro quarto ainda ouvindo o choro da madrasta e os xingamentos do pai. Vestiu suas peças íntimas e foi até a sala, sentou no sofá e pegou o telefone.

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Esperou a frase que sempre ouvia quando ligava para lá - só que nunca tinha coragem de falar nada - e soltou a frase.

- Meu pai bate na minha madrasta e em mim todos os dias, bêbado e com faca ou arma mão.

- Quantos anos você tem?

-Hoje é o meu aniversario de 15 anos. Você pode vir agora? 

- Onde estão seus pais agora?

-Espero que venha. Também quero notificar um suicídio´.

- Quem é a vítima? 

Bianca olhava para a arma do pai em sua mão quando ouviu a porta abrindo e seu pai aparecendo com  ódio estampado nos olhos.

-Com quem está falando,menina? - o pai gritou 

-Moça? - a policial do outro lado da linha falou - Quem é a vítima?

- Sou eu.

   

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