quinta-feira, 26 de maio de 2016

Amor platônico

 

Ela pedalava todos os dias e no fim da tarde estava sempre ali sentada na grade que não nos deixava chegar ao oceano. Ela todos os dias ficava uma hora inteira ali e depois ia embora. E eu a via todos os dias, observava, desenhava ela. Era uma moça encantadora. Pequenininha, branquinha, cabelos pretos e óculos. Geralmente usava vestidos floridos. Era minha paixão platônica. Eu ,um cara que não saia de meu quarto para nada a não ser para ir a faculdade, apaixonada por uma garota que eu nem conhecia. Não tinha a menor coragem de descer de meu apartamento para ir cumprimenta-la. As paredes do meu quarto tinham fotografias dela, desenhos, tirinhas e poemas. Fazia mais de três meses que ela ia lá todos os dias. Fazia mais de três meses que eu a "conhecia" .

Um determinado dia ela chegou com muita pressa, pulou da bicicleta e deixou ela caída na calçada. Correu até a barra e s apoiou nela chorando. me levantei de minha cadeira preocupado e fiquei em pé para poder ver melhor o que estava acontecendo. Ela sentou  na grade virada para o oceano, como fazia de costume. E se jogou. Naquele momento meu coração disparou. Fiquei imóvel alguns segundos e em seguida sai correndo de samba-canção pelo prédio em um desespero absurdo. Atravessei a rua sem olhar para os lados e ouvi as buzinas reclamando, apoiei meu corpo bruscamente na grade e vi seu corpo boiando perto de pedras ensanguentadas.

Eu estive no enterro dela. Me apresentei como um amigo, levei flores, levei até alguns desenhos que eu havia feito dela. Não havia ninguém alí. Apenas uns professores da faculdade, e um pai bêbado. Vi uma garota aparecer depois mas ficou por pouco tempo. 

E eu nunca pude conhecer ela...
Talvez se eu tivesse tido a coragem de descer e cumprimenta-la.
Quem sabe...

- Letícia Pontes

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